sexta-feira, 27 de março de 2015

Passei um tempo nos teus olhos hoje
Havia aquelas cachoeiras das quais te falei -
As que queria estar mais do que em qualquer lugar do mundo
Acampei aí esta noite,
(Ainda que tu nem imagine)

terça-feira, 24 de março de 2015

Transe

Preciso cuspir palavras
Vomitá-las
Já não cabe em mim
Esse acúmulo de letras
Estou jorrando

Todos os poros transbordam
Armam catapultas
Disparam grafias

As frases gritam
Ensurdecedoras
Posso ouvir seus ruídos a distância

Entorpecedoras
Obscenas
Doentias
Viciantes
Viciantes
Viciantes
Viciantes
Viciantes




Devaneio II

O que se torna
A sua mão
Quando toca?
É uma nova pele
Um novo instante

O corpo se modifica
A cada fôlego
De presença.

O que são
Seus olhos
Quando perdem-se
Em interiores secretos?
Que são eles
No momento em que encontram
Os meus?

Ser um
E ser todos,
Paralelamente,
Paradoxalmente

Você em mim:
Incógnita.

Exponho-me minha
E a partir do instante
Que me transformo em ondas de ar
Só farei sentido,
Nessa ponte que vai de mim para ti,
Quando me torno
Tu

Sou redesenhada
A cada olhar teu

Se sou contigo
Me distribuo nova
Em sua alma
Porém continuo integra internamente

Sei das minhas cores
(ainda que por vezes elas se misturem, descomedidas)
E no entanto,
Pergunto-me
Quais são as tintas
Com que você me colore?

Devaneio I

Nada para.
Nunca.
Qual o propósito
De um universo
Configurado de movimentos
Infinitamente
(infinitamente!)
Constantes?

Qual seria a sensação
De um pós-vida,
De transformação
Depois de um segundo na eternidade
De morte da dança existencial?

Como seria morrer completamente
Em uníssono, em coletivo
E após
Um
Segundo
Na
Eternidade
(então finita)
Ressuscitar
À incessante mutação?

segunda-feira, 23 de março de 2015

Recebia o sol
Banhava-se no orvalho
Crescia com a grama
Chorava com a chuva

Voava como as libélulas
Observava, toda Lua
Era arte como as borboletas
Silêncio como o fundo dos rios

Gritava com os raios
Explodia em vendavais

Não era mais humana
Era bosque,
Mata,
Integridade silvestre

Te chamarei Outono

Ouço o vento.
Seu ar traz resquícios
Do calor 
Da tua voz distante

Haveria 
No lugar das cordas vocais
Notas de um violoncelo
Tocado pelas tuas palavras?

Embrulho-me nesse cobertor
De afago,
Canção para acalmar,
Já posso dormir

segunda-feira, 9 de março de 2015

Renascer à liberdade

Hoje senti
as dores do parto
do crescimento dos ossos
a dor de nascer

Dei a luz
a outros
e a mim

Retirei da minha alma
as pegadas asquerosas
de tempos que petrificaram
minhas cores
lentamente
a partir do núcleo
das minhas células

Limpei a gosma pegajosa
do musgo
destes cascalhos
e a cuspi para longe

(Re)nasci
arredondei-me
descobri o porquê de chorarmos
quando vamos ao mundo

Porque dançamos
ao existir
porque dançamos
ao gerar

Olhei no calor
dos meus filhos
dos meus pais
dos meus novos fótons
de e(xist)ssencia
que me preencheram
da mais genuína paz

 - Gratidão! 08/03/15

domingo, 8 de março de 2015

Yamí

A Noite
É majestosa demais
Para que eu me sinta a vontade
Na sua presença

É crua
Uma multidão de obscuros,
Ocultos,
Que fervem as pulsações

Rainha do Universo
Seu véu é pintado
(minuciosamente decorado por seu filhos)
De movimentos silenciosos
Mínimos máximos vibrantes
E cobre cada átomo 
De espaço existente

Não ouso tocá-la
Nem encará-la nos olhos

Resta-me escapar
Pela única fresta de fuga
Disponível:
Montada em música
Galopando rumo aos sonhos 

Garopa

Hoje o Sol cantou
E os pássaros cantaram com ele
E as árvores filosofaram
Entre si

Hoje as ondas desfilaram
De mãos dadas com o vento
E olhavam-se tanto nos olhos
Que vibravam e expandiam

Hoje, barquinhos refrescaram-se
Nas águas de cristal
O Calor fez carnaval nas ruas
A Alegria veio sambar maravilhosa

(Hoje, não posso dizer
Que fiz amor com o Mar
Mas nele me acheguei tanto
Que confesso: morri de vontade)
Preciso estar só
Livre
Aceitar-me
Preciso não negar-me
Desprender
Mergulhar-me
Preciso arejar
Estar-me
Intro ver
Ser