quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Crochet

Bordei
Com fios coloridos
Uma película de criança
Sobre meus olhos
Antes pálidos
Agora ávidos
Contam o mundo
Como uma história em aquarela
Poetizam o belo
E o feio
Simplificam, questionam
Encantam-se
Acreditam
(em sereias)
A chama dançou
(bailarina)
a música da chuva
(orquestra):
uníssono contraste
(vida).
Simplicidade
Sutileza
Sabedoria
Silêncio -
Ser
Um
Poema

Briófadas

Pessoas verdes
Nascem dos caules
Dos cogumelos raros
Deixam pólen
Por onde passam
Sorriem orvalhos
Germinam, novas, cada manhã
Seus pelos são flores
Seus olhos,
luas
Suas veias, cachoeiras
Seus pés,
raízes
Seus corações,
só(i)s.
Pessoas verdes
são fadas

cwb

A calçada curitibana
cheia de pisos,
traços, rachos,
passos, apressados,
baixos, altos
Folhas que caem secas
e agora já voam
molhadas pelo chuvisco
repentino
Sombra, chuva,
sol, chuva,
guarda, chuva
pingos, gotas, icolas,
gotículas
Centro, cheio,
cheiro de
xixi
pastel
fumo
fumaça
Carcaça
do trabalhador
que corre em disparada
para alcançar seu ligeirão
ligeiras pisadas
Parando,
sentando,
sentindo,
os fótons de
cores e almas e luzes
Que por aquele
banquinho de praça
sentaram,
pararam,
sentiram.

Uterino

Subitamente
O âmago do meu ser
Aparece, silencioso
É o desejo de estar
Naquele (in)stante
Nua
Submersa
No grande azul
Leve, lenta
Livre
Nada(r) mais
Está cheio
Cheiro e calor humanos
O espaço é pouco
Mas recheado pela gente
Pelas histórias
Pelas formas e cores
De corpos estelares
Olhos-portas de universos
Nebulosas que não se encontram
Guardam-se num buraco negro
Desviam-se
Não compartilham
Perdem-se no vácuo
De um mundo que distancia
Isola, esfria
Sempre disfarçado
De proximidade

Rio

Uma luz azul banha-me
Desprendo-me dos limites
Do meu corpo.
Sou agora
A serenidade do rio
Que inspiro
Força e leveza
Transbordar energia
Quebrar o túnel
Deixar as águas inundarem
E transformarem
A vibração
Das minhas células.

Lumen

Lua nova
Abre sorriso
Ri o céu
Observando as belas luzes
Da Terra
Respondo
Espalho-me também
E agradeço
Pelas tão mais bonitas
Dele,
Do seu manto,
Mago-céu

Blues

Plantei
uma semente de mar
na terra fértil
dos meus olhos.
A maré sobe as vezes
inunda meu corpo,
transborda
das raízes,
salga meu rosto,
silencia
minhas energias.
Melancolia
Minhancolia
Minhancoria
Minh'âncora.

Nana

As nuvens vem
regando a noite
amamentando telhados desnutridos
Colocando em cada
pingo
um pouco de chá-de-calma
Cantando canções
de ninar
Afofando travesseiros
e almas