quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Os vãos dos prédios desafogam o céu e é só mormaço pousando sobre a pele
As minúcias dos espelhos regidos pelos cenhos franzidos a distancias
Os meninos e seus olhares giratórios incansáveis suas fragilidades impositoras de pedregulhos
As meninas e seus teares de entrelaçamentos e forças motoras de poesia concreta
As luzes anunciantes da magia pesada das palavras vocalizadas em vazio
Nossos aplicativos de meditação e grilos noturnos de artifício-tela
Nossas tentativas de escape
Nossas plantas nas janelas
Nossos cimentos rachados
Nós
Cidades





terça-feira, 2 de agosto de 2016

Mais uma pra ela que é de tanto eu não me aguentar

Nós

Pacotes de pele, pelos, cascos, digitais

Textura

Expansão de órgãos por porosidades impulsionadas de ossaturas
Expressões musculosas de estiradas condensações

Raridades típicas

Nossos gestos viciados
Nossas alergias
Nossos gostos por uns cheiros e outros
Nosso traço ao escrever
Nossa quantidade de suor
Nosso timbre

No entanto

Essa esfera
Gigante
De fogo
Que nos pinta a todos de dourado e quentura

Me faz lembrar das semelhanças da minha pele
Com a tua
Feita de conchas, pegadas, e aaaaaaaaaaaaaahs tuas notas
(A maior prova de que músicas
São ondas
Sonoras)

Isso é coisa que até há alguns dias não percebia,
Mas
Desde a primeira vez que ouvi você cantar
Tu já fez parte

Dos meus alcances vocais
Das geometrias que enxergo ao fechar os olhos
Das coisas que tanto me impressionam
Da espessura dos fios dos meus cabelos
Das minhas singularidades

Te trago como espelho e enfeite de verão
(Pra adorno de corpo inteiro e além)

Dessa vez
Não houve despedida
-Te enraízo em mim-

-E rego-
Quiçá não há de ter nunca mais


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Fiz um rezo forte à Minguante
Enquanto osmose na sua boca e na minha
Eu toco tuas costelas e tu me toca a alma inteira
De arrepio
É só pela luz da Mestra Azulada
Que posso transpirar pra dentro de ti


Desconfie dos meus silêncios 



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Vinte

Foi segunda feira e minguei meus dezenove

Eu estou renascendo
Eu estou saindo do útero 
Feito da argamassa que me moldou até hoje 
Levando só a placenta molhada de vida nutritiva
E a essência do que fui pelo que restou do cordão umbilical
Eu balbucio quem agora estou 
Com o intento de ser clara

 (mas é sempre impossível falar claramente quando se nasce todo dia)

Mas há que se tentar e tentar 
Há que se desvencilhar dos sucos ácidos 
Que permanecem destruindo as asas de aquarela que se formam
No meu casulo
Há que sair e me permitir
Ser meia lagarta, meia borboleta
E ser inteira uma

Ser agora
Parida pelas mãos da Divindade 
Que delineia meus corpos,
Que rege meu caminho e se apresenta todos os dias
Com novos nomes e formas
Que metamorfoseia meus olhares 
Meu primitivo, meu segundo-minuto-tempo-lento, meu terceiro olhar

Ser abençoada pela magia e pelo concreto 
Ser magia
Ser concreto
Ser bicho
Ser mundo
Ser as fusões todas
Ser esse segredo cochichado que finge gritar

Me assumo inteira quando em silêncio cochicho secretamente os elementos e entidades
E os tenho todos concentrados para muito além dos meus chakras
Me assumo feiticeira do resgate ao úmido vivo da terra
Assumo todas as faces que expresso

EU SOU MUITAS

Sou choupana de pau a pique 
Cercada de mata e água
E preenchida de flores
E carvalhos
E espíritos 
Que perpassam 
Todas 
As sinapses da minha pele, meu órgãos, minhas mãos

Sei ser bosque
Sei ser selva 
Caminho minhas trilhas muito bem acompanhada de mim
Não deixo migalhas atrás dos passos - vou
Embora
A cada dia
E peço licença para adentrar 
Nos corações daqueles que amo 
Sem tirar liberdades


Que seja recíproco











domingo, 27 de março de 2016

Dona

Foi-se embora todo lamaçal.
Então, pousou todo Seu peso - familiar
Na terra limpa
Boca torta, olho miúdo
Cacoetes
Índia velha, velha
Se riu do "fecha as pernas"
Mas silenciou na sua sabedoria
Ausência das palavras físicas.
Carregou minhas pernas e pôs-se  acomodada no seu trono humilde de palha
Tomou o corpo inteiro
Depois pendeu à direita
Eu, em seu colo-metade esquerda
E com suas mãos cheias de tremedeira, rugas sanguíneas e energia mais que vitais
Me falou, e dessa vez com clareza
Palavras que os homens não poderiam compreender jamais.
Me fez chorar de alegria e risada
Quando a reconheci, entendendo o que dizia
"Us omi não intendi é nada dos nosso segredo, menina"
E gargalhávamos juntas, sem parar, na sua brincadeira,
Em nossa intimidade indescritível.
Mostrou tanta coisa mais linda que a outra
Sobre as profundezas verdes, roxas, noturnas, diurnas e brilhantes
Do sagrado feminino
Varreu inseguranças e invejas
Explicou sobre a singularidade
Mostrou-me no útero da minha mãe
Mostrou-me a delícia e o empoderamento do sexo como nunca havia visto
Mostrou minhas mulheres externas e internas
Mostrou seus mistérios como respostas e perguntas
"Eu vim dum tempo que passado e futuro se confundem
Dum lugar donde eu e tu somos uma só
I todas mulher é uma
Cada qual com seus véus e luas
Elas, ouça e ame"
Elas também eram montanhas e brisas
Folhas e naturezas e fêmeas
Tetas tão cheias quanto nossa força criadora
E o silêncio da sabedoria
A observação
A canseira da idade avançada
Tudo isso e muito mais mostrou-me essa que era
Quem?
Minha mestra?
Minha ancestral? Minha entidade? Minha idade futura?
Eu? Ou outra?
Ora uma, ora ambas, ora todas,
Sempre unidas em um só corpo,
E foi-se de repente
Sem dar sinal.
Sua despedida foi quando já era Vento
Brincou com meus cabelos, acariciou minhas costas no sol,
Dançou comigo,
Me encheu o pescoço de beijos, com fofura,
Deu uns cheiros,
Ninou-me,
Presenteou-me com canções e fez-me olhar para a singeleza do chão de grama
E toda a vida que continha.
Espalhou-se no ar.
Foi-se.
Mas permaneceu.

Eu
Não
Ando
Só.

Salve Ayahuasca! 27/03/2016 <3

sábado, 27 de fevereiro de 2016



As histórias que escrevi verdes

No espelho

Dois minutos de resgate

Aos pulmões úmidos

Folhas fechadas
.
Bronquíolos de musgo angustiado empurrando espaço entre cada fresta espremida dos paralelepípedos abafados da calçada dérmica
.
Resistência
Selvageria solta na prisão dos riscos do rosto comprimido
.
A seiva dos olhos da mãe-minha-terra
Orvalho da minha flora
.
Eu-mulheres
(Novas, crescentes, cheias e minguantes)
Força de germinar fôlegos
Reflexo dos lagos azuis em cavernas sombrias
As luas e seus esburacados
.
Toda esta
Vastidão

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Escrevo
Com a profundidade das ondas ressoantes dum violoncelo
Escrevo com toda mata selvagem e noturna que me habita, em tocaia
Escrevo com o berro distante das minhas aves de rapina
Pelo som das canções para chorar
Com toda a maré de confusão íntima
Com toda trilha sonora feita de gente
E mundo
Te escrevo
Não te salvando
De novo
Das minhas visões entorpecidas

- Feitas de gente
E mundo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016