Foi segunda feira e minguei meus dezenove
Eu estou renascendo
Eu estou saindo do útero
Feito da argamassa que me moldou até hoje
Levando só a placenta molhada de vida nutritiva
E a essência do que fui pelo que restou do cordão umbilical
Eu balbucio quem agora estou
Com o intento de ser clara
(mas é sempre impossível falar claramente quando se nasce todo dia)
Mas há que se tentar e tentar
Há que se desvencilhar dos sucos ácidos
Que permanecem destruindo as asas de aquarela que se formam
No meu casulo
Há que sair e me permitir
Ser meia lagarta, meia borboleta
E ser inteira uma
Ser agora
Parida pelas mãos da Divindade
Que delineia meus corpos,
Que rege meu caminho e se apresenta todos os dias
Com novos nomes e formas
Que metamorfoseia meus olhares
Meu primitivo, meu segundo-minuto-tempo-lento, meu terceiro olhar
Ser abençoada pela magia e pelo concreto
Ser magia
Ser concreto
Ser bicho
Ser mundo
Ser as fusões todas
Ser esse segredo cochichado que finge gritar
Me assumo inteira quando em silêncio cochicho secretamente os elementos e entidades
E os tenho todos concentrados para muito além dos meus chakras
Me assumo feiticeira do resgate ao úmido vivo da terra
Assumo todas as faces que expresso
EU SOU MUITAS
Sou choupana de pau a pique
Cercada de mata e água
E preenchida de flores
E carvalhos
E espíritos
Que perpassam
Todas
As sinapses da minha pele, meu órgãos, minhas mãos
Sei ser bosque
Sei ser selva
Caminho minhas trilhas muito bem acompanhada de mim
Não deixo migalhas atrás dos passos - vou
Embora
A cada dia
E peço licença para adentrar
Nos corações daqueles que amo
Sem tirar liberdades
Que seja recíproco