sexta-feira, 2 de março de 2018

psilo



Meu corpo de mamífera
Branco, enorme e redondo
Não se entende mais só
Há também as liquefeitas e encaracoladas entradas na matéria do ar

Não lembro quando mas meu corpo não só mamífero entra
Ou se torna
Esse portal de espirais neon e córregos

Sou a noite
Inseta
Minhas asas são imensas e têm forma de canoa
Elas me carregam tranquilamente
Eu, sibilante, só sei ser borboleta
Uma mariposa gigante nas águas cristal banhadas pela Lua
Suas asas barco e seus deleites soprosos de frutas

Minhas patas delgadas e pegajosas devoram os néctares, as folhas e as castanhas
Sinto a crueza e a maciez doce da pele das frutas e seus sumos como a crueza das vaginas úmidas
E assim
Vôo

Me observo: sou azul, pintada, cheia de detalhes
Meus cabelos já não me pertencem
Esfarelo minha pele e também tudo o que toco com as patas
Sou a sutileza da borboleta que pousa, depois se lança, e se descobre
Divina
Meu equilíbrio se dá pela respiração profundíssima das minhas asas

Meus barulhos rápidos e líquidos se comunicam diretamente com a Floresta em uma língua feminina soprosa redonda poética anoitecida levíssima cambaleante e completamente
Natureza

Sinto a Lua e eu-inseta-deusa-devoradora a convido
Num convite que se faz às amizades mais íntimas e antigas
Para realizar sua magia nos órgãos dos seres todos
Danço com ela nas cores lentas e vivas da Floresta, guiada pela correnteza suave do rio

Me banho porque ainda ouço a água
Na janela do meu quarto Ela irradia seu poder como mandala
Ouço meus irmãos grilos e o frio do vento
Minha carcaça se rompe
Exoesqueleto
Retorno ao meu corpo de mamífera
Mas sou outra

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