quarta-feira, 4 de maio de 2016

Vinte

Foi segunda feira e minguei meus dezenove

Eu estou renascendo
Eu estou saindo do útero 
Feito da argamassa que me moldou até hoje 
Levando só a placenta molhada de vida nutritiva
E a essência do que fui pelo que restou do cordão umbilical
Eu balbucio quem agora estou 
Com o intento de ser clara

 (mas é sempre impossível falar claramente quando se nasce todo dia)

Mas há que se tentar e tentar 
Há que se desvencilhar dos sucos ácidos 
Que permanecem destruindo as asas de aquarela que se formam
No meu casulo
Há que sair e me permitir
Ser meia lagarta, meia borboleta
E ser inteira uma

Ser agora
Parida pelas mãos da Divindade 
Que delineia meus corpos,
Que rege meu caminho e se apresenta todos os dias
Com novos nomes e formas
Que metamorfoseia meus olhares 
Meu primitivo, meu segundo-minuto-tempo-lento, meu terceiro olhar

Ser abençoada pela magia e pelo concreto 
Ser magia
Ser concreto
Ser bicho
Ser mundo
Ser as fusões todas
Ser esse segredo cochichado que finge gritar

Me assumo inteira quando em silêncio cochicho secretamente os elementos e entidades
E os tenho todos concentrados para muito além dos meus chakras
Me assumo feiticeira do resgate ao úmido vivo da terra
Assumo todas as faces que expresso

EU SOU MUITAS

Sou choupana de pau a pique 
Cercada de mata e água
E preenchida de flores
E carvalhos
E espíritos 
Que perpassam 
Todas 
As sinapses da minha pele, meu órgãos, minhas mãos

Sei ser bosque
Sei ser selva 
Caminho minhas trilhas muito bem acompanhada de mim
Não deixo migalhas atrás dos passos - vou
Embora
A cada dia
E peço licença para adentrar 
Nos corações daqueles que amo 
Sem tirar liberdades


Que seja recíproco











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